Minha pesquisa sob a ótica dos Multiletramentos

 

         De acordo com Kleiman ( 2010) quem mencionou um termo mais próximo a letramento foi Paulo Freire quando se referiu a alfabetização como  uma prática sociocultural. No entanto, como afirma Kleiman ( 2010) " o letramento não é alfabetização, mas a inclui" ( KLEIMAN, 2010, p.11), pois nem sempre quem é letrado é alfabetizado, ou mesmo de forma inversa, a pessoa alfabetizada nem sempre é letrada diante de um evento de letramento. O que antes era letramento( no singular), hoje, usamos letramentos, devido à essa pluralidade em práticas que envolvem habilidades e competências. Alguns exemplos de letramentos são: o letramento visual, letramento racial, letramento digital, entre outros que compõe os multiletramentos em suas diversas multimodalidades. 


       Os multiletramentos compreendem a multiplicidade das linguagens e das diferentes culturas, assim temos  multiletramentos verbais, não- verbais, sonoros  espaciais e essas multimodalidades os materializam e os tornam únicos constituídos através do discurso . A minha pesquisa, antes de tudo, está ancorada na Análise do discurso(AD), e fará uma análise do funcionamento do discurso acerca da mulher surda na série “ Crisálidas"(2019), atualmente transmitida pela Netflix.  


           A materialidade audiovisual composta em Crisálida  propõe um gesto de leitura, levando em conta as condições de produção que evidenciam marcas discursivas. Como explica Pechêux: “é provavelmente o que compele cadavez mais a análise de discurso a se distanciar das evidências da proposição, da frase e da estabilidade parafrástica” (PÊCHEUX, 1999, p.53) e ater-se aos sentidos produzidos nos discursos.

   Consciente disso, objetivo descrever e compreender a historicidade, pois “no discurso temos o social e o histórico indissociados” (ORLANDI, 2017, p.16), ou seja, existe o funcionamento  discursivo acerca da mulher surda, marcado pela historicidade. Visto isso,  farei um paralelo visando compreender o sujeito enquanto ser do discurso.  

    Diante dos fundamentos teóricos da AD materialista farei as possíveis leituras dossentidos da materialidade significante ou “modo significante pelo qual o sentido se formula” (LAGAZZI, 2011, p. 401) no simbólico relacionando-o à história e ao sujeito discursivo. A AD procura compreender o funcionamento da linguagem e aceita sua complexidade e multiplicidade, ou seja, a produção de sentidos está diretamente relacionada às formas abstratas e materiais, pois “ é na prática material significante que os processos se atualizam" (ORLANDI, 1995, p.35), visto que a sociedade é dividida por discursos que determinam as classes e as dividem.     


 

      Dessa forma, a pesquisa se encaixa nos multiletramentos, sobretudo por inserir o conhecimento cultural sobre os surdos através de um material audiovisual, acessado por grande parte da sociedade atendendo a um público bastante variado.  Assim, o material a ser analisado na pesquisa possui as referências culturais que abordam a comunidade surda e suas dificuldades e obstáculos em uma sociedade que privilegia a cultura ouvinte, pois  discursos que colocam os surdos em uma posição inferior aos ouvintes ainda circulam na sociedade.

    Por conseguinte, podemos afirmar a importância dos multiletramentos, pois além do conhecimento podemos perceber os comportamentos dos sujeitos na sociedade, seja na atualidade em meio às informações rápidas e instantâneas, seja pelo atravessamento histórico fazendo – nos pensar e ampliar os nossos horizontes diante da leitura de mundo e das possibilidades de saberes. 

 

 

 REFERÊNCIAS 

KLEIMAN, A. B. Preciso “ ensinar" o letramento? Não basta ensinar a ler e escrever? Cefiel/ IEL/ UNICAMP/MEC. 2010.


LAGAZZI, S. O desafio de dizer não. Campinas, São Paulo: Editora Pontes, 1988. (p. 51-62).

 

ORLANDI, E. P. Discurso em análise: sujeito, sentido e ideologia. 3ª edição. Pontes editores. Campinas- SP: 2017.

  

PÊCHEUX, M. [Et al] In: ACHARD, Pierre. Et al. Papel da memória. José Horta Nunes (trad.). Editora Pontes. Campinas- São Paulo:  1999.

 

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